quarta-feira, 24 de maio de 2017

Ah!

Ah... O amor! Leve como o vento que toca as folhas de uma árvore. Forte como as raízes que se fincam ao chão. De início, vem com o formato mais puro e sincero que um coração vazio aumeja receber. Vem com um sorriso fácil ou um beijo demorado. Mas, rapidamente, esse amor tão calmo se transforma e te derruba com a força e intensidade que uma tempestade derruba a mesma árvore que antes era acariciada pelo vento passageiro. De raízes fortes se transformam em galhos espinhosos. Trás a mesma dor que as árvores sentem ao sentirem os lenhadores as apunhalarem. Arde como o sol que queima a pele em dias de caminhada. Se desfaz como pétalas de rosa após semanas caídas ao chão. O mesmo amor que antes era manso se transforma em uma ameaça para o coração que antes era vazio e que não o procurava. Porque agora, esse coração vive e convive com o medo de nunca receber a cura.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A minha última caminhada.

 Domingo era o meu dia preferido da semana, pois o melhor esporte, para mim, é caminhar. E era o único dia que eu tinha um tempo livre para isso. Eu saía da minha casa, e corria 6 km sem pausas para descanso. Não sei se era o ar livre em meu rosto que fazia eu amar tanto correr, ou o bolo de laranja que me esperava na casa de meus avós quando eu terminava os trinta minutos de corrida. Na verdade, eu fazia uma pausa no caminho, mas para pegar um girassol para minha avó, é a flor preferida dela, e alguém havia plantado um jardim de girassóis num terreno abandonado, era a imagem mais bonita do meu dia. 
 Havia uma senhora, Dona Marta, que sentava em frente a sua casa aos domingos, e sempre me dava bom dia quando eu passava. Eu sentia que ela já me esperava, porque quando me via, abria um sorriso maravilhoso. 
 Antes de lhes contar o que houve naquele domingo, vou me apresentar. Meu nome é Melissa. Eu tenho uma pinta discreta no meu queixo, lábios rosados, sou alta, morena, gosto de rir e digamos que sou apaixonada por cães, e pelo Fred.
 Meus pais sempre dizem, todos os domingos, a famosa frase "Cuidado, filha". E eu tenho, muito cuidado. Olho para os dois lados da rua antes de atravessar, respiro fundo e corretamente enquanto eu corro, bebo 2 litros de água por dia, sou saudável e nunca esperava que isso fosse acontecer comigo.
 Acho que estão querendo saber quem é Fred, não é? Pensem num sorriso cheio de dentes, num olhar charmoso, numa jogada incrivelmente bela de cabelo e um físico maravilhoso. Pensem no melhor jogador de futebol que existe, num coração acelerado e num corpo arrepiado só de certa pessoa chegar perto de você. Eu lembro da primeira vez em que ele falou comigo, foi num jogo da escola, o time dele tinha acabado de vencer.
 - Você é a Melissa, não é?
 Eu paralisei. Era comigo que ele estava falando? 
 - Sim. Nos conhecemos? - Claro que eu não iria facilitar as coisas pra ele.
 - Não. Muito prazer, me chamo Fred.
 Claro que chama. Faz 3 anos que sei o seu nome.
 - O prazer é todo meu, Fred.
 E lá se foram 2 incríveis anos ao lado dele. Era impressionante como ele me fazia rir com as piores piadas. Mas também era incrível o modo como ele me olhava.
 Mas, vamos partir logo para o assunto principal. A minha última caminhada. 
 Era um dia lindo, com um sol quente e nuvens num céu maravilhosamente azul. Era tão cedo, que ainda havia a sombra da lua da noite anterior. Eu me alonguei, me preparei, e comecei a correr. Corri como se não houvesse amanhã, mas no meio do caminho, comecei a sentir falhas na minha respiração. Não estava normal. Me sentia cansada, e minha respiração travava de minuto em minuto. A rua estava tão deserta, mas de longe enxerguei a Dona Marta, tentei me aproximar, mas quando percebi, estava caída no chão. Acordei num hospital, com aparelhos ao meu lado, fios nos meus braços e um tipo de respirador na boca. Me desesperei. Melhorei quando enxerguei minha mãe vindo até mim, e por algum motivo, eu não conseguia falar. 
 - Melissa, vai ficar tudo bem. Você quer saber o que aconteceu?
 Eu confirmava com a cabeça, pois era a única coisa que eu conseguia fazer. Eu me sentia totalmente drogada.
 - Você estava caminhando, e desmaiou. A Dona Marta chegou até você e saía sangue de sua boca.
 Ah, esqueci de dizer a vocês que enquanto eu corria, tossi muito.
 - Ela ligou para a emergência, buscaram você, nos ligaram e te sedaram profundamente. Você está com Hemoptise.
 Hemoptise? O que é isso? Eu me perguntava.
 - Você teve uma tuberculose repentina, e foi tão forte que se tornou uma Hemoptise, o que trás riscos a sua vida. Mas os médicos estão tentando de tudo para você melhorar. Por isso, feche os olhos e descanse.
 Eu logo obedeci. Sentia como se tivessem acertado algo na minha cabeça.
 Abri meus olhos. Estava sem o aparelho que respirava por mim. Me sentia tão diferente. Eu estava melhor?
 - Melissa? Acordada?
 Era o médico.
 - Olá.
 - Seus exames estão ótimos. Não esperava que você fosse melhorar tão rápido.
 - Quer dizer que posso ir pra casa? Já anoiteceu?
 - Bom, depois de 3 dias, com certeza pode ir pra casa.
 - 3 dias?
 - Sim, você dormiu por 3 dias.
 - Como assim?
 - Não sabemos exatamente o porque, mas você entrou em coma. 
 Quanta coisa pro meu pequeno cérebro processar.
 - Mas então, posso ir embora?
 - Claro. Que tal um banho antes de você ir?
 - Está bem.
 - A enfermeira vai te ajudar.
 Uma mulher loira e muito bonita entrou no quarto alguns minutos após o meu médico sair, ela me ajudou a levantar da cama e apontou a direção do banheiro. Fomos até ele. Ela me ajudou a tirar minhas roupas e me pôs embaixo do chuveiro. Disse que ia me esperar do lado de fora do banheiro, e que se eu precisasse, a chamava. Eu liguei o chuveiro, e logo o vapor da água quente tomou conta do banheiro. Aquela água fazia tão bem quando caía em meu rosto. Mas, eu não estava completamente relaxada. Algo estava preso na minha garganta, e eu realmente queria saber o que era. Comecei a tossir, tossir e tossir. De repente, uma bolinha preta com manchas vermelhas saiu da minha boca e lentamente encostou no chão, virando um líquido. Era sangue. Gritei. A enfermeira entrou, e eu estava fraca. Aquilo saía novamente da minha boca. Não conseguia mais ficar em pé e ela me enrolou num lençol e me levou para a cama novamente. Eu fechei os olhos, e entrei em um sono profundo. Horas depois, acordei. O médico e minha família me encarava. Não estavam felizes.
 - Melissa, infelizmente...
 - Eu vou morrer?
 - Não. Você está com uma infecção, seus pulmões estão sendo forçados a pararem de "funcionar". 
 - Mas você disse que eu estava bem.
 - Eu disse. Mas não esperava isso. Sinto muito.
 Ele saiu do quarto, me deixou lá, sem explicações. Minha mãe e meu pai choravam, e eu não sabia como reagir. A única coisa que consegui fazer foi gritar para eles saírem de lá. Sei que fui egoísta e antes de saírem, me olharam, suas expressões eram de despedida. Sentei na cama, abaixei minha cabeça e lágrimas não paravam de cair nas minhas mãos. Eu estava ali, sozinha. E era assim que eu queria estar. Eu ia morrer? Esse era meu fim?
 A porta abriu. Era o Fred. Consegui me recompor por alguns minutos. Ele chegava perto, e eu sentia o seu perfume cada vez mais forte.
 - Como você está? - Ele me perguntou.
 Não consegui responder.
 - Preciso te dizer algo. E espero que não ache que é forçado.
 - O que?
 - Sabia que nada é mais forte do que o amor de jovens? Foi o que me disseram. Nós sonhamos e pensamos tanto no futuro e por um momento nós montamos uma vida irreal em nossas mentes. O meu sonho, sempre foi dizer que eu te amava, mas nunca consegui. E se foram 2 anos. Mas, não estou aqui para me declarar como se fosse uma despedida e sim para que você saiba que vou estar do lado de fora desse quarto todos os dias te esperando.
 Enquanto ele falava, meu coração desacelerava. 
 - Você é forte, Melissa. Eu te amo. - Ele finalizava com um beijo em minha testa e logo perguntava. - Você precisa de alguma coisa?
 Lentamente, minha cabeça caía sobre o travesseiro. Ele tinha dito que me amava?
 - Não preciso de mais nada, Fred. - Com uma lágrima caindo sobre minha bochecha, eu fechava os olhos. E na minha lenta e última respiração, sentia o corpo de Fred cair sobre o meu.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Laranjeira

  O silêncio tomava conta da rua naquela tarde ensolarada de Fevereiro. Nem um carro, moto ou ciclista passava em frente a árvore em que Roberto estava encostado. Sentado na calçada, com seus pés na rua e suas costas largadas na árvore, ele mexia suas mãos e braços ao som de Katy Perry. 
 - Firework? 
 Roberto abria seus olhos após escutar aquela voz suave. 
 - Laura?
 - Desde quando escuta esse tipo de música?
 - Desde o dia em que você me disse para escutar. 
 - Pelo visto você gostou. 
 Roberto fixava seus olhos no sorriso de Laura.
 - Sabia que eu estava aqui?
 - Te vi pela janela do meu quarto.
 - Mas, você não mora...
 - Morava. Mudei para essa rua há dois dias.
 - E eu vim parar na sua calçada?
 - Talvez seja o destino. Posso me sentar com você?
 Ele indicava onde Laura deveria sentar-se, apontando com o dedo indicador. 
 Os dois balançavam a cabeça conforme Bruno Mars cantava. O vento lentamente chegava em seus corpos, passava por seus rostos e Roberto apreciava os cabelos de Laura balançando no "ritmo" do vento. Um barulho os assustava. Uma laranja. Estavam encostados em uma laranjeira. Laura sorria e em seguida, o beijava. O silêncio tornava-se ainda mais profundo.



quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Mudança

  Quando pensamos na palavra "mudança", qual o significado que podemos dar a ela? Mudar? É, mas pode significar muitas outras coisas.




 Ela pode estar presente na seguinte frase: "Essa semana faremos uma mudança em casa". Mas no que exatamente? Vão mudar a maneira de se comportar a mesa, ou de falar, de se vestir, de se alimentar?
 No meu caso, ou seja, na minha vida, mudança significou apenas uma coisa que envolvia diversas outras. O que foi? Simples, mudei de Estado. Mudei de São Paulo para Goiás e admito, foi tudo muito rápido. Posso dizer que um dia eu estava na minha casa em Taubaté, interior de São Paulo, e no "outro", estava no Centro Oeste do Brasil.
 Lembro de todos os detalhes do meu último dia naquela cidade, pequena, porém a que guarda até hoje 16 anos da minha vida. Foi lá que fiz amigos, que sofri, foi lá que (amei?!). Se for pensar em algo de lá para reclamar, chegarei a conclusão nenhuma. Era perfeita do jeito que era/é. 
 Mas, o que significa mudar de Estado? É algo fácil? Com certeza não.
 O primeiro sentimento que você tem ao mudar de Estado, é o da perda. Tem consciência de que nada será igual a partir do momento que você pegar a estrada. Quando cheguei em Goiânia, resumindo, a única coisa que sabia fazer era chorar e me perguntar "O que é que eu estou fazendo aqui?". Eu olhava para os lados procurando uma resposta, mas não conseguia encontrar. A única lembrança que tinha era da minha família ficando para trás, acenando no portão da minha antiga casa, limpando as lágrimas de seus rostos e forçando sorrisos que diziam "vai ficar tudo bem"
 O tempo passou e o meu refúgio eram as 4 paredes do meu quarto. Não "conhecia" ninguém. Para onde ir? O que fazer? Eu me sentia insegura, com medo de confiar em quem quer que fosse. Até que por bondade de Deus, eu acho, conheci pessoas incríveis e posso dizer que preencheram completamente o vazio que eu estava sentindo. Mas, quando alguém da minha família vinha me visitar, tudo voltava na hora da despedida. A agonia, a tristeza e o desespero retornavam com tanta força que meu coração parecia receber marteladas. 
 Um ano se passou e posso reconhecer o tamanho amadurecimento que ocorreu em mim. O que eu nunca esperava superar (distância), não conseguiu ser mais forte do que eu. Hoje posso dizer, não que me acostumei a ficar sem o que eu tinha, mas que com o tempo você se adapta as coisas mais impossíveis. Ainda sinto uma saudade gritante. Ainda sinto raiva por meus amigos terem desaparecido da minha vida. Ainda penso nos almoços de domingo que não vou participar, ou no crescimento de priminhas que não vou acompanhar. Em vitórias que não irei compartilhar e nos meses terríveis que vou ter que esperar para passar poucos dias com as pessoas que amo. 
 Posso dizer que, mudar é crescer. É aprender. É se superar. E mesmo com tudo isso, sinto algo tão imenso dentro de mim, uma voz que diz e repete "Você faz parte desse lugar!".